sábado, 23 de março de 2013

O TeoremaA Katherine e seus desafios (Matemáticos e Tradutórios)

Por Renata Pettengill
Colin Singleton, protagonista de O teorema Katherine, é um ex-menino prodígio capaz de criar anagramas, de bate-pronto, para qualquer coisa. Na tentativa de recuperar a glória do passado e, quem sabe, o amor de sua décima nona ex-namorada chamada Katherine, ele aposta no desenvolvimento de um teorema matemático que consiga prever o desfecho de todos os relacionamentos amorosos.
Essa combinação de decadência intelectual, habilidade linguística, conhecimentos matemáticos, dor de cotovelo e busca pela fama permitiu que John Green criasse um texto genial e cheio de desafios, tanto para ele como para seus tradutores.
O desafio de John foi ser capaz de inserir um teorema na história do livro, já que o próprio autor é uma negação em matemática. “Escolhi a faculdade que cursei, em parte, porque não exigia nenhum pré-requisito matemático”, explica John Green. Felizmente para ele, um de seus melhores amigos, Daniel Biss — professor-assistente da Universidade de Chicago e pesquisador do Instituto Clay de Matemática —, aceitou a tarefa de criar uma fórmula que funcionasse no contexto da história.
Até aí, nenhuma dificuldade tradutória maior. Afinal, a matemática é uma linguagem universal, certo? Não necessariamente. Ligeiras adequações foram necessárias. Mas, felizmente para mim, há uma mestre em matemática na minha família, a Anna Maria Sotero, e ela aceitou o desafio de fazer a revisão da parte técnica na minha tradução do livro. Era preciso garantir que essa parte seria transposta corretamente para o português. E eu, como o John, sou uma negação na matéria.
Talvez tenha sido por isso que perdi a conta de quantos anagramas tive de desenvolver para O teorema Katherine! E foi esse o maior desafio criado pelo John Green para seus tradutores. Anagrama não se traduz. E todos os anagramas do original fazem sentido no contexto da história. Não podia ser uma anagramatização aleatória ou descompromissada.
Um exemplo extremo: por motivos que serão esclarecidos durante a leitura do livro, o arquiduque austro-húngaro cujo assassinato é apontado como uma das causas da Primeira Guerra Mundial é bastante citado na história. Em inglês, Franz Ferdinand. Em português, duas possibilidades: Francisco Fernando e Francisco Ferdinando. Só que a escolha de uma dessas opções não dependia só do resultado da pesquisa “qual delas é a forma consagrada” ou “qual é a mais usada nos livros de História?”. O avô alemão de uma das personagens chamava-se Fred N. Dinzanfar — anagrama de Franz Ferdinand. O nome dele tinha de ser um anagrama de Francisco Fernando ou Ferdinando na nossa edição. A fim de manter o prenome e o último sobrenome o mais próximos do original possível, usei Fred e Dinsanfar. E as letras que sobraram foram determinantes na escolha. Com Francisco Ferdinando, elas compuseram o sobrenome Ocicon, que soava mais alemão que o formado pelas letras restantes de Francisco Fernando: Coco!
Para complicar um pouco mais, alguns anagramas foram feitos a partir dos nomes e sobrenomes das ex-namoradas de Colin. Todas Katherines. (E o “K” é uma letra tão comum no português, não é mesmo?!)
Mas, o que de início poderia parecer uma grande dor de cabeça, acabou se transformando em diversão. Foram meses de tradução recheados de várias horas de adaptações e esforço criativo. Um desafio que me deu um prazer imenso, e sei que a todos os que trabalharam na edição do livro também — no que foi mais um bonito trabalho de equipe da Intrínseca.
(E, felizmente para vocês, o resultado pode ser conferido a partir de hoje.)
Boa leitura e…
 DFTBA!

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